quinta-feira, 22 de agosto de 2013

o grande espetáculo

Peixes com agulhas aidéticas, hepáticas e virulentas atravessadas em seus estômagos, com pedaços de plásticos cravados em seus intestinos e algas cobertas de petróleo entupindo suas guelras, mordiscam milhões de pedaços de merda e bebem o caldo grosso amarelo-verde-marrom-pálido das toneladas de lixos fecais produzidos por milhões de intestinos doentes acostumados a comerem lixo em fast foods, hambúrgueres de papelão em pães de farinha de papel, com catchup de tomates de 1 kilo que crescem com as artérias entupidas de agrotóxico e queijo derretido feito com leite de dinossauros com suas tetas cancerígenas de 10 metros acorrentadas no incessante plup-plup que expele litros infinitos de leite com sangue e pus, gruindo de dor até que seu corpo sucumba e sua carne, ossos, tumores, vísceras, intestinos e suas proteínas fecais sejam moídos e misturados com hormônios para servirem de ração de frangos gigantes, sem pés, asas, olhos, nem almas, que vão parar nos estômagos e intestinos doentes de lesmas, ratos, aranhas e todo tipo de vermes e insetos gigantes que se arrastam e se espremem em latas gigantes que vomitam gás carbônico, e os insetos e parasitas se mutilam, pisoteiam uns aos outros como um ritual arcaico e tradicionalista de produção de vinho artesanal, produzindo vinho de sangue que escorrem de suas carapaças e são sugados por suas próprias línguas pretas até chegarem aos seus postos onde ratos roem unhas de aranhas, lesmas exigem que suas antenas sejam lustradas por vermes sem pés, mãos ou patas, morcegos se sujeitam a abanar formigas provincianas de sangue azul que mijam notas de cem dólares, cães fardados perseguem gatunos com seus bigodes impregnados de leite azedo, que fazem o trabalho sujo para coelhos de páscoa que fumam charutos cubanos, bebem whisky black label e comem filhotes de pombas que chegam da áfrica através do trafico internacional de prostituição escravista, e no cair da noite todos se empanturram, celebram suas derrotas, peidam, arrotam, se coçam e viram pedras, até que o relógio desperte e o show comece novamente.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

monstro fumaçante

A passos lentos sigo para a pensão, fumando e aumentando a força do monstro fumaçante que é a cidade. Um monstro violento que esfumaça e sangra. Sangra os bêbados nos bares que engolem a conquista da perda em copos de álcool. Sangra o assalariado que é roubado pelo ladrão. Sangra o ladrão que apanha e é roubado pelo policial. Sangra o filho que vê a mãe se prostituir por seu sustento. Sangra a mãe que enterra o filho que virou ladrão. O monstro expele a fumaça e sangra. E sangro eu. E chego a pensão.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

pavão e borboletas

Luana houve um discurso em um tom de voz alterada, abre os olhos e está em um corredor de paredes brancas, o branco mais intenso que ela já viu. Mais algumas palavras e Luana reconhece a voz, é Roberto. Olhando adiante, no final do corredor de onde vem o discurso, percebe que Roberto está se movimentando de um lado pro outro berrando palavras ao ar. Aos poucos Luana vai se aproximando.

- Deus! Rá rá rá! Deus! E eu não acreditei em Ti! Mas por favor, isso aqui é um circo, quanta hipocrisia, o que quer afinal? Nós não temos mais esperança alguma, um no outro! – Gritava Roberto aos ares, enquanto andava de um lado pro outro e parou ao ver Luana aproximando-se.

Roberto destacava-se na imensidão branca pelo seu traje todo preto, ao seu lado direito havia alguns anjos, na sua frente estava Luana, ao seu lado esquerdo e atrás não havia nada; não se via o final da imensidão branca.

- Ora, mais essa! O que está querendo? O que faz essa garota por aqui, no meu julgamento? Julgamento! Eu não Te dou o direito de me julgar! Você não tem o direito de ser o juiz dos atos anti-éticos ou imorais cometidos pelos homens. Déspota Supremo! Você deu vida a todos os seus fantoches, mas somente ao homem Você deu a condição de decidir o que é ético e o que é moral e por isso ao julgar alguém você deixa de lado uma questão importante: os pontos de vista, afinal na Sua selva (Seu brinquedinho que você criou em sete dias) existem vários “meios”, e nunca vai haver um consenso do que é ético ou moral. Eu não pedi pra ser jogado naquela selva, eu não pedi uma vida, muito menos uma vida com apenas duas escolhas: suas regras, ou o sofrimento! Onde está meu livre arbítrio? A promessa do “além perfeito” não ameniza em nada a dor de quem sofre escaras internas e externas por ser jogado num jogo onde as perdas acontecem antes que se tenha a possibilidade de intervir. A presença do seu amor e compaixão é sentida tanto quanto a escuridão de quem adormece. Você é um pavão e precisa de um público submisso que encha o seu ego apreciando as suas plumas! E vocês! – Apontou aos anjos – Vocês são umas borboletas que servem apenas de enfeite de cenário! Faça-me o favor, acabe com isso de uma vez, algoz supremo! Eu sinto náuseas só de olhar pra vocês, suas borboletas! – Ao notar Luana parada, perguntou - E essa garota o que faz aqui ainda? Essa garota é a imagem da Sua natureza humana! Da mesma forma que mataria alguém, também se submeteria aos mais sórdidos subornos por sua ganância! Da mesma forma como eu agi durante toda minha vida. Mas... Chega! Chega desse circo, eu sei pra onde devo ir e tenho certeza que por lá já estão arquitetando a ocupação desse campo de borboletas!

domingo, 21 de abril de 2013

De quem carrega o peso do mundo

Nasci condenado a dar espetáculos de sangue                     
Cresci onde a inocência moral é perdida com pólvora na mão
Pra anunciar o bangue, alertar a gangue, os irmão,
Que de ferro na mão não pensam em trégua velada, nem paz anunciada.

Carreguei o peso do mundo a cada terror
Nunca sorri ao enfiar o cano em nariz de doutor
Chorei e rezei pedindo o perdão não merecido pro nosso senhor
Sonhei com sorrisos, amor e de baixo do braço uma maleta de trabalhador

Mas acordei com a maleta do avião
Mais uma fita dada pra cumprir com apetite
Seguindo ligeiro pra tentar mudar a estatística
De não ser só mais um moleque que não chega aos vinte

Só que estatística é estatística
E eu sou só mais um protagonista
De outra história que se repete,
De um destino trilhado à risca...

Recebo meu punhado de terra e o caixote de papelão
Pra cobrir o corpo desfigurado de balas
Só mais um indigente, pobre, ladrão...

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A troca


O antagonismo de abrir mão da conquista
É sinal da insanidade de amar

Você descobriu o amor pela força do meu empenho
E em troca eu te apresento a arte que me ensinas-te:

O desprezo.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

os grandões

Os anos 90 começavam e com a mudança de década vieram também várias mudanças na vida. Meus pais haviam se separado, eu e meu irmão fomos morar com o pai e minha irmã com a mãe. Deixamos de ser caiçaras! Saímos da Praia Grande para morar no centro de São Paulo (os homens - eu, meu pai e irmão). As mulheres (irmã e mãe) foram para a Penha, na zona leste de SP.

Em 89 eu estava no prézinho, em 90 começou o meu martírio escolar. Com toda essa mudança ficou definido que eu iria estudar perto da casa da minha mãe, então todos os dias eu acordava cedo, pegava um ônibus no centro e ia até a zona leste para estudar. A parte legal era poder almoçar na casa da minha mãe, o que me salvava de ter que comer o rango rançoso do pai que era feito aos sábados e ficava guardado na geladeira pro resto da semana.

Outra coisa legal é que eu fiz amizade com o cobrador do ônibus e sempre pedia pra passar por baixo da catraca pra economizar os bilhetes e com isso eu salvava também os meus irmãos. Vendia meus bilhetes e usava a grana pra comprar hot-dogs e outros petiscos que substituíam o almoço lá em casa!

Mas nem tudo eram flores. O problema foi ser jogado nas jaulas junto com os grandões. Naquela época os colégios eram divididos entre 1ª a 8ª série, e os colegiais. Ou seja, quando eu entrei na primeira série, o colégio era dominado pelos adolescentes.

As crianças da primeira a quarta série tinham seu recreio em horário separado dos gradões da quinta a oitava, o que nos salvava um pouco. Mas o horário de entrada e saída era o mesmo. Tínhamos que sobreviver no meio deles.

Eu vivia puto da cara querendo que uma maldição caísse sobre todos os grandões. O cartão de visitas dos caras foi terem me rodeado e tomado o meu lanche logo no primeiro dia de aula. O queijo quente ainda estava morno dentro da mochila, embrulhado em papel alumínio!

Então era isso! Se levasse lanche os caras tomavam! Se levasse dinheiro, tomavam também! Me liguei logo de cara e avisei o velho que não queria mais levar lanche, disse que o café da manhã da escola era legal.

Mas ver o seu lanche ainda morno, ou sua grana sendo roubados não era o único problema. Os caras faziam todo tipo de maldade. Por alguma intervenção diabólica sempre recebíamos algo para comer na hora da saída, por exemplo "ovo cozido". Os grandões entravam na fila, pegavam os ovos e nos esperavam fora da escola. Quando pisávamos fora do portão, éramos agarrados pelas blusas e obrigados a comer um ovo atrás do outro, até não aguentar mais. Mas eu sempre resisti. Não fazia parte do grupo dos chorões. Já tinha sangue de grandão nas veias e não via a hora de estar no lugar deles, pirraçando com as crianças! Mas justamente quando passei pra turma dos grandões ao chegar na na quinta série, o governador da época aprovou uma lei que separava os colégios entre 1ª a 4ª série e da 5ª até o último colegial. ¬¬

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

mais um

Sem reação ao preço que o bem-estar impôs
Engolindo merda à força sem resistência
Subordinado de alma vendida pela busca do conforto
Mais um acéfalo diplomado inclinado a ofensas

Moralista beato que mantém o tom complacente ao que te fere.
Seu único valor é servir aos vermes a sete palmos abaixo da terra.

Mais um dentre o rebanho cego
(Um exército de pedras desfalecidos de alma
Uma nação de zumbis impulsionando o ciclo inerte)
Marchando à rotina!

E após morrer mais um dia o sorriso floresce
Congratulando a conquista da perda

Mais um dentre o rebanho cego
Vai se foder!
Congratulando a conquista da perda
Vai se foder!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

sobre um herói

Na terceira idade ela começou a apresentar sinais de esquecimentos e ele que nunca foi bom em culinária, assumiu a responsabilidade de cozinhar, ele não estudou medicina, mas aprendeu a medicá-la, entre tantas outras coisas que ele assumiu a responsabilidade de zelar sozinho por amor a ela, à vida deles, que foi erguida sob o amor.

Agora, na fase de aposentado, é direito irrevogável que ele saia pra caminhar, tomar café na padaria enquanto lê um jornal, puxar conversa pra falar sobre os acontecimentos, sobre seu time, sobre futilidades e voltar pra casa, pros braços dela. Mas ao invés de “voltar pro braços dela”, ele prefere estar sempre com ela.


É ele quem a acompanha em caminhadas. É ele que fica 24 horas ao lado dela, que ri, sente angústia e talvez chore com as conversas sem sentido. É ele que freqüentemente a leva para tomar café na casa da neta e aproveitamos pra tomar uma cerveja, ou vinho e partilharmos, um pouco que seja, dos risos e angústias que a presença dela nos proporciona.


Ele tem seus iguais, que são alicerces para ajudá-lo, mas mesmo que estivesse sozinho, ele continuaria sendo o herói do amor, zelando por ela e superando-se a cada dia.

quinta-feira, 24 de março de 2011

no canto do sol

Onde se vê, com calma o abutre espreitando sua caça
Onde a chuva apodrece as tábuas
Muquiado a pedra queima, inala
Vacilou na quebrada dorme na vala!

Um rosto afoito de quem implora a vida
Algum sabor na velha carne ferida
No canto do Sol a trégua é velada
Apenas por sangue, ódio, rajada

No canto do Sol não tem perdão
Se não tiver respeito, já era Jão!
Pra casa cair é um-dois
Porque a dívida nunca fica pra depois

Não adianta ajoelhar, não tem conversa
As preces aqui não chegam ao céu
Quando o dia amanhece o Sol ilumina
Pelos buracos de bala o sangue do réu.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

em honra ao mérito

O sangue alheio não incomoda os servos da guerra
Que resumem em números as mortes deixadas pra trás,
Que deixam em chamas o alvo escolhido
E transformam em ruínas o caminho trilhado

O brilho da glória escurece a visão
Que "justifica" a incoerência de um povo cego
Há ultrapassar barreiras, há conquistar fronteiras
Em nome de uma ordem unilateral

O medo da morte paralisa a ação
Que "justifica" a fragilidade de um povo fraco
A deixar de lutar, a se entregar
Pela esperança da vida em uma guerra perdida

A se ajoelharem diante do poder
Em honra ao "mérito"
De não serem as próximas
Vítimas da história

A se ajoelharem diante da história
Em honra ao "mérito"
De não serem os alvos
Da ostentação do poder