quarta-feira, 5 de outubro de 2011

sobre um herói

Na terceira idade ela começou a apresentar sinais de esquecimentos e ele que nunca foi bom em culinária, assumiu a responsabilidade de cozinhar, ele não estudou medicina, mas aprendeu a medicá-la, entre tantas outras coisas que ele assumiu a responsabilidade de zelar sozinho por amor a ela, à vida deles, que foi erguida sob o amor.

Agora, na fase de aposentado, é direito irrevogável que ele saia pra caminhar, tomar café na padaria enquanto lê um jornal, puxar conversa pra falar sobre os acontecimentos, sobre seu time, sobre futilidades e voltar pra casa, pros braços dela. Mas ao invés de “voltar pro braços dela”, ele prefere estar sempre com ela.


É ele quem a acompanha em caminhadas. É ele que fica 24 horas ao lado dela, que ri, sente angústia e talvez chore com as conversas sem sentido. É ele que freqüentemente a leva para tomar café na casa da neta e aproveitamos pra tomar uma cerveja, ou vinho e partilharmos, um pouco que seja, dos risos e angústias que a presença dela nos proporciona.


Ele tem seus iguais, que são alicerces para ajudá-lo, mas mesmo que estivesse sozinho, ele continuaria sendo o herói do amor, zelando por ela e superando-se a cada dia.

quinta-feira, 24 de março de 2011

no canto do sol

Onde se vê, com calma o abutre espreitando sua caça
Onde a chuva apodrece as tábuas
Muquiado a pedra queima, inala
Vacilou na quebrada dorme na vala!

Um rosto afoito de quem implora a vida
Algum sabor na velha carne ferida
No canto do Sol a trégua é velada
Apenas por sangue, ódio, rajada

No canto do Sol não tem perdão
Se não tiver respeito, já era Jão!
Pra casa cair é um-dois
Porque a dívida nunca fica pra depois

Não adianta ajoelhar, não tem conversa
As preces aqui não chegam ao céu
Quando o dia amanhece o Sol ilumina
Pelos buracos de bala o sangue do réu.