quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

os grandões

Os anos 90 começavam e com a mudança de década vieram também várias mudanças na vida. Meus pais haviam se separado, eu e meu irmão fomos morar com o pai e minha irmã com a mãe. Deixamos de ser caiçaras! Saímos da Praia Grande para morar no centro de São Paulo (os homens - eu, meu pai e irmão). As mulheres (irmã e mãe) foram para a Penha, na zona leste de SP.

Em 89 eu estava no prézinho, em 90 começou o meu martírio escolar. Com toda essa mudança ficou definido que eu iria estudar perto da casa da minha mãe, então todos os dias eu acordava cedo, pegava um ônibus no centro e ia até a zona leste para estudar. A parte legal era poder almoçar na casa da minha mãe, o que me salvava de ter que comer o rango rançoso do pai que era feito aos sábados e ficava guardado na geladeira pro resto da semana.

Outra coisa legal é que eu fiz amizade com o cobrador do ônibus e sempre pedia pra passar por baixo da catraca pra economizar os bilhetes e com isso eu salvava também os meus irmãos. Vendia meus bilhetes e usava a grana pra comprar hot-dogs e outros petiscos que substituíam o almoço lá em casa!

Mas nem tudo eram flores. O problema foi ser jogado nas jaulas junto com os grandões. Naquela época os colégios eram divididos entre 1ª a 8ª série, e os colegiais. Ou seja, quando eu entrei na primeira série, o colégio era dominado pelos adolescentes.

As crianças da primeira a quarta série tinham seu recreio em horário separado dos gradões da quinta a oitava, o que nos salvava um pouco. Mas o horário de entrada e saída era o mesmo. Tínhamos que sobreviver no meio deles.

Eu vivia puto da cara querendo que uma maldição caísse sobre todos os grandões. O cartão de visitas dos caras foi terem me rodeado e tomado o meu lanche logo no primeiro dia de aula. O queijo quente ainda estava morno dentro da mochila, embrulhado em papel alumínio!

Então era isso! Se levasse lanche os caras tomavam! Se levasse dinheiro, tomavam também! Me liguei logo de cara e avisei o velho que não queria mais levar lanche, disse que o café da manhã da escola era legal.

Mas ver o seu lanche ainda morno, ou sua grana sendo roubados não era o único problema. Os caras faziam todo tipo de maldade. Por alguma intervenção diabólica sempre recebíamos algo para comer na hora da saída, por exemplo "ovo cozido". Os grandões entravam na fila, pegavam os ovos e nos esperavam fora da escola. Quando pisávamos fora do portão, éramos agarrados pelas blusas e obrigados a comer um ovo atrás do outro, até não aguentar mais. Mas eu sempre resisti. Não fazia parte do grupo dos chorões. Já tinha sangue de grandão nas veias e não via a hora de estar no lugar deles, pirraçando com as crianças! Mas justamente quando passei pra turma dos grandões ao chegar na na quinta série, o governador da época aprovou uma lei que separava os colégios entre 1ª a 4ª série e da 5ª até o último colegial. ¬¬