terça-feira, 18 de maio de 2010

Nastássia Filíppovna

a melhor personagem de todos os tempos, pelo mestre Dostô.


...Ele ficou perplexo e, mal começou a falar com ela, logo viu que estava perdendo o seu latim, que tinha de abandonar a entonação, a lógica e os objetos daquelas agradáveis conversas tão bem sucedias até então, tudo, tudo! Pois viu diante dele, sentada, uma mulher inteiramente outra, e não absolutamente aquela moça...

... E essa nova mulher demonstrou, em primeiro lugar, conhecer e compreender muito – mas muito! – da vida e do mundo, e conhecer tanto que uma pessoa se maravilharia em saber onde e como tomara tanto conhecimento e atingira idéias definitivas. (Na certa, não na sua biblioteca para moças!) E o que é mais, sabia mesmo o aspecto legal de certas coisas e tinha um conhecimento categórico, se não do mundo, pelo menos de como as coisas são feitas no mundo. Em segundo lugar, não possuía mais o mesmo caráter de antigamente. Não havia nada de timidez nem da incerteza da menina do colégio, uma vez fascinante em sua original simplicidade tão jovial, outras vezes melancólica e sonhadora, estupefata e desconfiada, lacrimosa e difícil. 


Sim, era uma nova e surpreendente criatura que ria no rosto dele e lhe atirava venenosos sarcasmos...
...Evidentemente, além de tudo isso, ainda havia mais qualquer outra coisa; o prenúncio já de um fermento caótico em trabalho no seu espírito e no seu coração, prenúncio esse transformado em um insaciável e exagerado paroxismo de desprezo; enfim, algo altamente ridículo e inadmissível na alta sociedade e prestes a prejudicar qualquer homem bem-educado. 


Como não dava valor a coisa alguma e, muito menos, a si própria (era preciso muita inteligência e visão, em um mundano cético e totalmente cínico como ele, para perceber que ela havia desde muito deixado de se importar com o próprio futuro e de acreditar na valia de tal sentimento), 
Nastássia Filíppovna era mulher para enfrentar a ruína sem esperança, e até a própria desgraça, a prisão e a Sibéria...