quarta-feira, 29 de maio de 2013

pavão e borboletas

Luana houve um discurso em um tom de voz alterada, abre os olhos e está em um corredor de paredes brancas, o branco mais intenso que ela já viu. Mais algumas palavras e Luana reconhece a voz, é Roberto. Olhando adiante, no final do corredor de onde vem o discurso, percebe que Roberto está se movimentando de um lado pro outro berrando palavras ao ar. Aos poucos Luana vai se aproximando.

- Deus! Rá rá rá! Deus! E eu não acreditei em Ti! Mas por favor, isso aqui é um circo, quanta hipocrisia, o que quer afinal? Nós não temos mais esperança alguma, um no outro! – Gritava Roberto aos ares, enquanto andava de um lado pro outro e parou ao ver Luana aproximando-se.

Roberto destacava-se na imensidão branca pelo seu traje todo preto, ao seu lado direito havia alguns anjos, na sua frente estava Luana, ao seu lado esquerdo e atrás não havia nada; não se via o final da imensidão branca.

- Ora, mais essa! O que está querendo? O que faz essa garota por aqui, no meu julgamento? Julgamento! Eu não Te dou o direito de me julgar! Você não tem o direito de ser o juiz dos atos anti-éticos ou imorais cometidos pelos homens. Déspota Supremo! Você deu vida a todos os seus fantoches, mas somente ao homem Você deu a condição de decidir o que é ético e o que é moral e por isso ao julgar alguém você deixa de lado uma questão importante: os pontos de vista, afinal na Sua selva (Seu brinquedinho que você criou em sete dias) existem vários “meios”, e nunca vai haver um consenso do que é ético ou moral. Eu não pedi pra ser jogado naquela selva, eu não pedi uma vida, muito menos uma vida com apenas duas escolhas: suas regras, ou o sofrimento! Onde está meu livre arbítrio? A promessa do “além perfeito” não ameniza em nada a dor de quem sofre escaras internas e externas por ser jogado num jogo onde as perdas acontecem antes que se tenha a possibilidade de intervir. A presença do seu amor e compaixão é sentida tanto quanto a escuridão de quem adormece. Você é um pavão e precisa de um público submisso que encha o seu ego apreciando as suas plumas! E vocês! – Apontou aos anjos – Vocês são umas borboletas que servem apenas de enfeite de cenário! Faça-me o favor, acabe com isso de uma vez, algoz supremo! Eu sinto náuseas só de olhar pra vocês, suas borboletas! – Ao notar Luana parada, perguntou - E essa garota o que faz aqui ainda? Essa garota é a imagem da Sua natureza humana! Da mesma forma que mataria alguém, também se submeteria aos mais sórdidos subornos por sua ganância! Da mesma forma como eu agi durante toda minha vida. Mas... Chega! Chega desse circo, eu sei pra onde devo ir e tenho certeza que por lá já estão arquitetando a ocupação desse campo de borboletas!